quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O QUE É SER FÃ?

O QUE É SER FÃ?

   A denominação "fã" originária do inglês ("fanatic") é usada para aquela pessoa que se dedica a expressar sua admiração por uma pessoa, grupo, ideia, esporte ou até mesmo algo inanimado - um computador, ou um automóvel por exemplo.

     Eu, particularmente, nunca me senti fã de alguém ou algo até os 13 anos de idade. Eu não entendia o que vinha a ser o sentimento de idolatrar uma pessoa, de seguir os passos dela, ou de só falar nela... Eu achava uma perda de tempo alguém se dedicar tanto ao seu ídolo, uma vez que o mesmo possuía uma legião de fãs e você é apenas mais um! Mais um fã tolo, que idolatra porque admira aquela pessoa, mais uma pessoa que perde o tempo, mais um fã que não significa meramente nada para o seu ídolo! Será que o Luan Santana conhece algum fã dele pelo nome? Ou sabe sua história assim como o fã sabe a dele? Um pouco injusto essa relação entre fã e ídolo... Porém, eu experimentei o doce veneno (e até hoje vivo com ele) de ser fã de alguém, ou melhor de um grupo!

      Muito bem, então vamos começar essa história! Quando eu ouvia falar em "Pastoril Profano" me vinha na cabeça atores paraibanos que faziam um teatro popular, dando importância ao regionalismo e colocando em suas peças uma pitada de humor. O pensamento mudava quando se falava em Biuzinha Priqui! Pra mim a Biuzinha era um humorista de cabelo verde que animava as festas de todo mundo. Sim. Digo isso porque minha vizinha quando fez seu chá-de-panela contratou Biuzinha Priqui pra animar sua festa. Eu estava estudando no quarto, quando ouvi aquelas risadas. Sai pra ver o que era. Só conseguia escutar (muito mal) a voz de uma pessoa contando alguns "causos". Perguntei ao meu vizinho e também do dono do blog em acesso, Matheus Mendes e ele respondeu que mal conseguira ver o show da misteriosa voz hilária. O que era aquilo? Sei lá! Mas pelo visto o show era bom, todo mundo morria de rir. Dava vontade de rir sozinho com as risadas do pessoal. Mas eu e Matheus não sabíamos que aquela curiosidade pra saber quem falava na casa da vizinha estava prestes a acabar...
       Verão de 2010! Estava em casa. No sofá. Controle em cima da barriga. Passava Sessão da Tarde. Estava nos comerciais. Comerciais! Quando eu podia imaginar que comerciais poderiam me tornar fã de alguém? Pois foi o que aconteceu! Era um tédio aquelas propagandas de carro, perfume ou apartamentos das imobiliárias de João Pessoa! E quem suportava Chico Anisio fazendo propaganda da Jacaúna? Mas algo surgira ali no aparelho de TV! Algo que me chamava a atenção. Logo eu que era louco - isso mesmo "Louco", não fã ainda - por teatro. Aquilo me chamou a atenção! Era a misteriosa voz que ouvira na casa da vizinha... ela dizia:
      - Depois do sucesso do Verão Carioca!
      Outra falava:
      - Nosso verão agora é nos States!
       E uma gritaria (que parecia a minha sala de aula):
      - Vamos aos Estados Unidos! Eita Verão Americanalhado...
      O narrador dizia que era o Pastoril Profano de Quinta a Domingo, às 20 h!  E perguntava a Mudinha aonde era - no teatro Santa Roza. Parei por um instante! Uma breve vontade de assistir aquela peça teatral me passou pela cabeça, mas nem pedi pra ninguém me levar. Afinal, nunca tinham me falado no que era esse tal de "Pastoril Profano".
      Porém, - peço perdão ao distinto leitor pela utilização de tantas conjunções adversativas - parecia coisa divina, quando voltava da praia, eu no banco de trás, meu pai dirigindo e minha prima no banco do co-piloto, estávamos ouvindo ao rádio, quando de novo o anúncio dos comerciais! Comerciais! Pra que inventaram aquilo? Mais um marco do sistema capitalista... Novamente a situação se repetiu (assim como na televisão) a misteriosa voz da casa da vizinha entrava no meato acústico externo daquelas três pessoas que voltavam de mais um dia de praia, dizendo que depois do sucesso do verão carioca, seu verão era nos "states"! Agradeço aos criadores do comercial de divulgação por terem colocado uma evangélica falando "Ô Glória". Aquilo foi tiro e queda para quebrar o silêncio que vínhamos e fazer todos três caírem na gargalhada! Pela primeira vez me explicaram (ou tentaram me explicar) o que era aquilo. Meu pai falara que era engraçado, que valia a pena ir assistir! Será? Será que valia apena mesmo ir? É claro que depende da pessoa. Mas nós fomos e até a prima que ia ao lado do motorista também!
      Era 16 de janeiro de 2010, estava eu, a prima já descrita no texto, meu pai, minha mãe, minha avó e meu avô! Três casais... Nós estávamos em frente ao Teatro Santa Roza, fila quilométrica para assistir aquele até então misterioso espetáculo! Entramos. Fazia tempo que eu não entrava no teatro Santa Roza (parecia melhorado)! Um breve atraso de 15 minutos fazia com que a plateia olhasse os patrocinadores. Quando chegava a vez do supermercado "Bem-mais" tocava uma musiquinha! Lembre-se desse detalhe! Oito e dezesseis da noite! Que vontade de gritar: Começa, começa! Eu sentia, naquele momento, ansiedade e ao mesmo tempo tranquilidade em estar com minha família num programa diferente. Um homem começou a falar. Citava os patrocinadores, citava os atores e técnicos, dizia até quando o espetáculo ficaria em cartaz e por fim dizia a frase que eu mais gosto de ouvir quando vou a uma peça: "Tenham todos, um bom espetáculo!". As luzes se apagavam. Cortina fechada. Uma música composta por sons de pandeiro e sanfona começava. A cortina se abriu e aquela festa de cores começava bem na minha frente! Havia reconhecido a famosa Biuzinha Priqui pela sua peruca verde-limão, porém quem eram aquelas outras? São todos os atores homens? A senhora de cabelo assanhado de roupa azul era a cara de uma senhora que morava perto de mim! A famosa mudinha da propaganda era homem mesmo? Durante o espetáculo eu observava com atenção aos mínimos detalhes. Figurino, cenário, dramaturgia. Acaba o espetáculo! Mas acaba de uma maneira especial para mim, pois uma das últimas frases da música de encerramento era: "Um efeito ribalta faz tudo brilhar". Coincidência. O nome do meu grupo de teatro era Ribalta, e já haviam falado que ele fazia tudo brilhar. Saímos do teatro e fomos lanchar. Durante toda aquela noite refleti sobre a peça. Se tinha gostado? Nem eu sabia. Se era engraçado? Demais. Se fazia meu gosto? Em tudo.
   Passei do dia 16 ao dia 24 de janeiro na casa da minha avó. Quando voltei pra casa, fui na casa de Matheus e contei a ele (pois ele também é louco pelo arte de interpretar) da peça que tinha assistido! Imitei as vozes da senhora de cabelo assanhado de roupa azul. E despertou nele, no mesmo momento em que eu falava, a vontade de ir assistir! Talvez porque um professor do seu colégio participava do elenco. Ele fazia a maconheira, a sapatão, que eu não sabia o nome. Matheus foi direto chamar o pai dele pra assistir. Seu pai dormia. Matheus insistiu, e seu pai acabou cedendo; na hora peguei dinheiro pra ir também, não ia perder a oportunidade de poder assistir de novo aquele efeito ribalta que fazia tudo brilhar. Chegamos quase atrasados, mas conseguimos lugar. Eu tinha levado vinte reais. Dez da entrada. E os outros dez? O leitor deve pensar que eu guardei pra mim. Que eu ia levar pra lanchar no colégio, uma vez que minhas aulas começavam no dia seguinte! 24 era um domingo, as aulas começavam na segunda 25. Comprei um DVD! O nome era bem sugestivo para o dia seguinte: "Pastoril Profano Volta às aulas". Assistimos ao espetáculo! Matheus se mostrava também fascinado.
         Era dia 25 de janeiro de 2010, material novo, livros novos, e um DVD também novo, o “Pastoril Profano – Volta as Aulas”. Lembro-me que naquele dia acordei cedo, tomei banho, tomei café e fui assistir o DVD que comprara na noite passada. Assisti uns 20 minutos. 20 minutos suficientes para me tornar fã da Companhia Paraibana de Comédia. 20 minutos para aprender o nome de todos os personagens e seus respectivos atores. 20 minutos para mudar a minha mentalidade do que era a arte de fazer comédia.
Após o primeiro dia de aula, assisti o restante do DVD e aprendi, de fato, o que era o chamado Pastoril Profano. Com ajuda do Google, vi que o Pastoril era um folguedo popular, apresentado e “brincado” na época natalina, onde existiam dois cordões o azul e o encarnado e uma tal de “Diana” que era a neutra (representante dos dois cordões). Agora sim eu entendia o que era  famoso “Pastoril Profano” e minha paixão começou a partir desse dia.

O tempo foi passando, e eu ia contando as piadas para a minha turma, tentando ao máximo imitar os bordões usados pelos personagens. O pessoal morria de rir. O mesmo acontecia a Matheus, que passou a admirar o Pastoril Profano. Na última semana do Pastoril Americanalhado – o leitor deve perceber a minha maior intimidade com o espetáculo – (era dia 05 de fevereiro) levei minha avó, que também é envolvida com a parte cultural, para assistir o espetáculo, uma vez que ela já havia assistido o Pastoril Profano Um Verão Carioca, e falado que era excelente.
Quando chegamos ao Teatro, os ingressos para a sessão de oito horas já estava esgotado. Veja o sucesso do grupo, eles fizeram outra sessão às 21h30. Entramos no Teatro, os profissionais responsáveis pela gravação do DVD já desmontavam seus aparelhos. Nessa ida, aproveitei para comprar o DVD do espetáculo “Pastoril Profano – Um Verão Carioca”, e eu que achava que nunca ia poder ter todos os DVDs da Companhia, pois eram inúmeros espetáculos.
Assisti o Verão Carioca, Matheus também. E a partir daí o vício por Pastoril Profano era total. Nós pesquisávamos sobre o grupo na internet, procurávamos em diversas fontes, perguntávamos a todos que conhecíamos... E ficou mais fácil a comunicação uma vez que o ator Tony Silva fazia parte do grupo até então, e era professor do colégio de Matheus. Nós imitávamos os bordões, assistíamos direto aos dois DVDs comprados.
O meu fanatismo pelo Pastoril era (é) tanto que eu contratei a senhora de cabelo assanhado de roupa azul que era a Tia Creuza, interpretada pelo Ribamar de Souza para animar meu aniversário de 14 anos. O engraçado é que eu falava tanto dos bordões na sala de aula, que quando a Tia Creuza chegou um colega meu gritou: “Miiiiiiizeeeraa....”
No dia 1 de abril o vício (no sentido do vício saudável) era tanto que fomos caracterizados de Tia Creuza e Dubú para o aniversário da minha tia. A partir daí, nós caímos na graça da família e todo mundo queria assistir uma apresentação nossa. Fomos de casa em casa mostrando as personagens, fomos até no Hospital Arlinda Marques animar os pacientes (minha avó materna trabalha no hospital citado). Eu e Matheus fomos contratados para animar uma aula da saudade da turma de farmácia da UFPB, no Popotamus. Lembro também que o espetáculo Pastoril Americanalhado foi apresentado em Itabaiana no dia do aniversário de Matheus (18 de abril), como Itabaiana é a cidade da família dele, como presente de aniversário ganhou a noite assistindo ao espetáculo.
Em maio, estreou no teatro Ednaldo do Egypto a peça “Branca de Calvão e as Sete Nevinhas”. Interrompo um pouco para fazer uma breve observação: na placa de anúncio da peça estava escrito: “com o mesmo elenco do Pastoril Profano” constatando que o Pastoril é o espetáculo mais conhecido pela população, ou seja, o Pastoril é um tipo de espetáculo que segue aquelas marcas constantes: cordão azul e encarnado, mesmas personagens... Enfim, Branca de Calvão era uma peça de humor diferente do Pastoril, e com isso eu vi que era uma Companhia de Teatro concreta. Para o leitor ter uma idéia do fanatismo, a peça iniciava às 20 horas e eu cheguei no teatro pra assistir a peça da tarde que começara às 16 horas. Passei das 17h30 até as 20h, sentado, esperando o início da peça. Nesse tempo que passei, vi a “Biuzinha do Pastoril”, ou melhor, o Adeilton Pereira, entrando no teatro de Branca de Calvão já com maquiagem e sem peruca.
A cada dia o fanatismo aumentava. Nas férias a Cia estreou com um espetáculo infantil e eu fiz questão de levar meus primos para prestigiar. No mês de agosto, ocorreu o Festival Bem Mais Comédia, no Shopping Sul, com um Pastoril Profano diferente a cada final de semana. No primeiro final de semana, foi o Pastoril Americanalhado, onde novamente eu levei minha avó. Matheus também assistiu conosco. Nesse mesmo dia houve o lançamento dos DVDs Pastoril Americanalhado e Branca de Calvão. Eu comprei os dois, e também “Um Verão na Casa do Pastoril”, aos poucos começava a juntar os espetáculos do grupo. No final de semana seguinte, foi Pastoril Um Verão Carioca. Novamente fui com minha avó e Matheus. Nesse dia comprei os DVDs Pastoril O Be-a-Bá Continua e Um Verão Canibal, entretanto o DVD do Verão Canibal veio trocado. A capa da frente era do Verão Canibal, a arte do disco também, mas quando colocava no aparelho, o espetáculo gravado era Um Verão na Casa do Pastoril e esse eu já tinha. No Festival, Matheus presenteou o ator Alessandro Tche com uma das perucas da gente. Sim! Perucas! Minha avó foi no centro e nos trouxe algumas perucas. Engraçada era a de Biuzinha! Que era igual! Aquele cabelo verde-limão... Semanas antes eu e Matheus rodamos o centro todo atrás de perucas, e só conseguimos uma, que o dono de uma loja de roupas tirou da manequim! Quando cheguei em casa, peguei essa peruca e a assanhei toda. Dando uma aparência da peruca de Tia Creuza.
Após o festival Bem-Mais-Comédia, não assisti nenhum espetáculo da Cia, portanto fiquei impossibilitado de trocar o DVD que veio com um erro. Agora, nós tínhamos que esperar até a estréia do Pastoril 2011. A curiosidade era intensa para sabermos o tema do Pastoril 2011. E quem iria substituir a Dubú? Isso a gente só iria saber com o passar do tempo...

Chega janeiro de 2011, e o tema do Pastoril a gente ficou sabendo em novembro, assim como a substituta de Dubú, a Magally Mel. No dia 13 de janeiro de 2011 (quinta-feira) era o dia da estréia do Pastoril Profano – Um Verão Circense, homenageando os Mestres dos Picadeiros. Eu e Matheus chegamos no Teatro Santa Roza às 16h30 da tarde para a peça às 20h. Conversamos com Paula (a bilheteira), vimos Laerte Cerqueira chegando para fazer a reportagem com o grupo sobre a estreia. Fomos os primeiros da fila. Eu estava ansioso para saber como seriam as músicas, o figurino, o cenário, as piadas...
Entramos no Teatro. O espetáculo começou com um atraso de meia hora em função do dia de estréia. A peça começava com os atores colocando suas perucas. Depois do espetáculo, que foi um sucesso, troquei o DVD Verão Canibal que estava errado e comprei o DVD da Biuzinha e as Fãs de Roberto Carlos.
Nesse ano (até esse momento que eu estou escrevendo o texto) eu fui quatro vezes pro espetáculo. Na estréia, no dia 22 de janeiro, 29 de janeiro, 4 de fevereiro. Matheus em um deles foi chamado pro palco, pra sentar no puleiro. Nessas quatro vezes que eu fui, eu consegui decorar a maior parte do espetáculo, e escrevi o roteiro da peça.



Eu não sou fã do Pastoril Profano. Eu sou fã da Companhia Paraibana de Comédia. E esse texto eu escrevi para poder retratar o que eu sinto quando se fala em Biuzinha, ou em Pastoril Profano, ou em Teatro Santa Roza.
Portanto, agora eu sei o que é ser fã! Não importa se teu ídolo te dê atenção ou não, o importante é você gostar de teu ídolo! Eu tenho certeza que nenhum ator, produtor ou técnico sabe quem sou eu! Mas e daí? Só por isso eu vou deixar de admirá-los?
Para terminar, vou usar da letra da música do Pastoril Circense: “Nossa jornada ta terminando, nós vamos partir...”. Deixo aqui o meu forte abraço e o meu eterno “MERDA” pra cada um desses atores paraibanos quando estes entrarem em cena. E dêem valor à platéia de vocês!

Um grande abraço de um FÃ!




Leonardo Henrique de Figueiredo Tavares, 14 anos, admira o teatro desde sua infância e pretende seguir a carreira.

Um comentário:

  1. Adorei toooda a história! queria poder contar tudo que passou pela minha cabeça a cada momento que coincide com o jeito que me tornei fã e me apaixonei pelo pastoril,adorei mesmo, perfeito!

    ResponderExcluir